Você sabe dizer não?
Sem te conhecer arrisco tendo quase certeza que ao longo de sua vida você já deve ter ido a pelo menos uns 100 eventos que você não estava com a menor vontade, mas não conseguiu dizer “não”. Claro que não dava para fugir a muitos deles, era o casamento do chefe, o batizado da sobrinha, as bodas de diamante dos sogros. Mas, e os convites, pedidos “menos importantes” como o chá de cozinha da assistente do departamento de compras da empresa que você trabalha? Ela realmente ficaria chateada se você não fosse? Ou passar a tarde cuidando dos filhos da vizinha que já demonstrou muitas vezes que abusa da sua boa vontade? Faria realmente diferença em sua vida se ela se ofendesse e ficasse uns dias “magoada” com você? Provavelmente não. Mas passamos a vida dizendo sim porque aprendemos desde cedo que é muito feio ser egoísta. É feio mesmo?
Se estivermos falando de deixar de confortar um grande amigo que está numa pior, para contarmos a ele pela terceira vez o quanto a dieta da Lua está funcionando na nossa vida, sim, é muito feio. Mas se estivermos falando de estabelecer limites para as pessoas que convivem conosco porque já passou da hora delas entenderem que temos mais o que fazer, se priorizar é essencial. Primeiro porque você ensina aos outros como gosta de ser tratado pelo que permite, tolera e reforça. Portanto, a não ser que você comece a sinalizar, sua amiga vai continuar achando que não tem nada demais emprestar seus sapatos e não os devolver. Por mais que pareça, nem sempre é tão óbvio para os outros o que é óbvio para nós (escrevi sobre o óbvio num outro artigo, se você ainda não leu, dê uma olhadinha aqui). Segundo porque as pessoas devem estar ao seu lado e gostarem de você por quem você é, não pelas coisas que você faz por elas. Falamos “sim” para não magoar ao outro, “sim” para que as pessoas continuem nos definindo como “gente boa”, “sim” para que os outros nos aceitem. Mas se for sua amiga de verdade (e isso deve incluir aceitar também seus defeitos e principalmente seus “nãos”), ela provavelmente entenderá o recado, passará a medir mais suas ações e continuará te amando, porque afinal de contas o que vale é a sua amizade e não seus sapatos certo? E terceiro e não menos importante, porque já estamos bem grandinhos para podermos dizer “não” às pessoas e nos priorizarmos.
Neste caso não se trata de egoismo, se trata de respeito. De nos respeitarmos a ponto de dizer “obrigada mas, não”. Vamos deixar o “sim” para os compromissos que realmente não poderemos deixar de comparecer, para os favores que não poderemos deixar de fazer e para aqueles dias que acordarmos com o coração tão cheio de amor que passar a tarde enchendo bexigas se torna uma tarefa agradável. E para começar, como fazer? Tente superar sua insegurança nesse sentido, tente ser coerente em relação ao que pensa e ao que faz, negue algo que você realmente não quer fazer e observe o que acontece. Comece com uma negativa que você considere inofensiva, isso ajuda a lidar melhor com a culpa. O que virá a seguir varia. Talvez uma torcida de nariz, um comentário como: “você está estranha, não é mais a mesma”. Mas geralmente é só. Agora, se alguém se afastar de você por ouvir um “não”, avalie esta relação. Provavelmente você descobrirá que passou muito mais tempo dando que recebendo. E relação tem que ter troca, se não, não funciona.
E aí? Quando você começará?
Boa semana! <3
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