Costumo fazer um exercício com meus pacientes que consiste em listar algumas qualidades que a pessoa acredita ter para que fique claro o quanto ela vale e o quanto muitas vezes se esquece disso. E quando fazemos isso é muito comum a pessoa ficar olhando para o papel e não conseguir escrever nada, porque há muito tempo acredita que não tem nada de interessante para dizer sobre si mesma. A medida em que vou dando exemplos e a questionando se ela tem ou não tais qualidades a lista vai se formando, já que o paciente obviamente tem várias delas, um sorrisinho tímido vai se abrindo e o exercício atingindo seu objetivo. Essa é uma forma muito legal de dar uma sacudida na autoestima, se você quiser tentar fazer em casa.

Recentemente fiz o exercício com um paciente que conseguiu enxergar diversas qualidades em si, mas como muitas pessoas, nem sempre se lembra delas quando se sente inseguro e para fechar o exercício eu comparei sua lista com uma outra, que havíamos feito sessões anteriores, sobre o que ele procura no par ideal. Quando fizemos isso, colocando em números, ele esperava que seu par tivesse apenas 1/4 das qualidades que ele mesmo disse ter. Por que tão pouco? Porque ele assim como a maioria, tem um sistema de crenças bem limitantes, que muitas vezes o leva a acreditar que deve se contentar com o que aparecer, mesmo que lá no fundo saiba que merece mais.

Esse sistema de crenças nada mais é que o conjunto de conceitos que introjetaram em você desde sempre, ideias, valores, ditos populares, conceitos como por exemplo: “você não pode ter tudo”, “você não vai conseguir”, “melhor ficar com ele porque ele te aceita como é”, “você não tem mais idade pra ficar escolhendo namorado” ou uma que particularmente adoro “ele é honesto, trabalhador e não tem vícios”. Até onde entendo ser honesto e não ter vícios é o mínimo que devemos esperar de alguém se quisermos um relacionamento equilibrado, não um passeio na montanha russa. Mas essa é a minha crença pessoal e talvez não seja a da sua tia, que sempre repete essa frase quando tenta te empurrar o filho da vizinha, um “excelente partido”. E depois de tantas vezes repetidas perto de você, a ideia tem parecido cada vez menos ruim a medida em que os aniversários passam.

O problema de não questionar suas crenças é que a vida realmente está passando como sua mãe sempre te lembra e ao invés de você estar lutando por exemplo para encontrar alguém que tenha mais a ver com o que acredita, você está presa a um relacionamento com uma pessoa que não te faz bem ou cujo amor já acabou faz tempo, ou simplesmente você sabe que não é ela. Mas você fica neste relacionamento, por medo, por achar que não merece mais que isso, por acreditar que não tem mais idade para procurar outra pessoa, por acreditar que não tem mais ninguém decente e que esteja disponível pois todos já se casaram. Oi?

Não estou falando de príncipe encantado muito menos de buscar alguém que corresponda a uma lista de exigências que vai de carro blindado a francês fluente. Essa pessoa realmente será muito difícil de encontrar disponível fazendo compras no mercado. Mas por que aceitar tão pouco? A não ser que as suas únicas qualidades sejam ser honesta e sem vícios, busque alguém que tenha um montão de qualidades assim como tenho certeza que você tem. O relacionamento já foi bom mas não faz mais sentido? Ponha um fim nisso, ninguém merece nada pela metade. Desconfie destas crenças que te aprisionam e arrisque! O medo deixa de existir quando o enfrentamos. E se contentar com pouco é tão triste.

Para encerrar, uso as palavras da escritora Clarissa Corrêa:

“A gente sabe quando encontra a pessoa certa. Tem gente que diz ah-eu-pensava-que-tal-pessoa-era-a-certa-e-depois-vi-que-não-era. Mentira. No fundo a gente sabe. A gente sempre sabe. O que falta e o que completa. O que abriga e o que desperta. O que protege e o que afugenta. A gente sabe, a gente adora fingir, mas a gente sabe. Porque a gente sente. Lá no fundo, lá dentro, lá na alma, lá.”

Coragem! <3