Pare o mundo que eu quero descer
Há cerca de um mês escrevi um texto sobre como não sabemos lidar com situações onde somos colocados a prova, onde somos confrontados, ameaçados e sobre o quanto isso revela nosso egocentrismo (se você não leu, clique AQUI). Coincidência ou não, nas últimas semanas vi tantas situações que considero anormais e que me fazem querer continuar no mesmo lugar.
Fiquei quebrando a cabeça nos últimos dias para entender quando foi que essa onda de egocentrismo invadiu o planeta. Provavelmente seja ingenuidade minha e ela sempre tenha estado entre nós. Talvez só esteja mais forte nesse momento, talvez só tenha ganhado mais voz com o acesso à internet. Mas o fato é que nos tornamos mimados, intolerantes e impacientes demais. Uso o pronome nós porque me incluo nesse time. Porque também me pego esbravejando quando não consigo o que quero. Porque também leio postagens de algumas pessoas e tenho vontade de chacoalhá-las para ver se elas recobram a consciência, porque também quero tudo para ontem. Não sei como foi a caminhada de cada um, muitos não foram mimados quando crianças mas se tornaram adultos mais difíceis porque na falta de carinho e atenção externos trataram de criar um esquema de auto proteção e compensações no intuito de suprir o que não receberam. Portanto, seja interno ou externo, em maior ou menor grau, o fato é que nossa intolerância ao “não”, ao diferente, existe. O ponto é que ela parece ter extrapolado o que é aceitável ultimamente.
Se você acha que estou exagerando permita-me dar exemplos do que vi nestas últimas semanas para que você mesmo possa tirar suas conclusões: vi a votação do impeachment, que dispensa maiores explicações, mas onde os deputados que votavam contra o que a maioria apoiava, eram vaiados, hostilizados, empurrados. Como se exercer o direito de votar só for válido se você estiver com a maioria.
Vi centenas de pessoas discutindo fervorosamente por conta de uma reportagem fútil, debatendo o que era certo ou errado em relação às mulheres, criticando as “belas, recatadas e do lar” bem como as que não seguem essa premissa, como se vivêssemos num mundo onde só há espaço para escolhas desde que elas sejam o que a maioria espera.
Vi dois pré-adolescentes na porta de uma escola serem agredidos por um adulto por aparentemente estarem “bloqueando” a passagem dele na calçada.
Vi mais de uma “celebridade” tendo que se justificar por ter engordado.
Vi mais de uma “celebridade” tendo que se desculpar publicamente por ter dado sua opinião sobre algum assunto e não ter sido bem aceita pela maioria.
Se pensasse mais um pouco encontraria outros fatos para descrever mas o que temos de exemplo já é suficiente para fazermos a reflexão. Aonde vamos parar se continuarmos assim? O que é que tem alguém pensar diferente? Por que as pessoas não podem mais dizer não aos outros? Como apontei acima, não sei quando isso começou, mas precisamos parar agora, já.
Se você fez uma proposta que não foi aceita, tente por um momento analisar o outro lado, o que não aceitou. Se coloque por um momento no lugar do outro. Seu namorado (a) foi realmente insensível? Era mesmo um programão imperdível levar sua mãe e sua tia na feira da madrugada do Brás? Seja sincero (a). Se uma pessoa fez algo que você não concorda, tente se colocar no lugar dela, mas pensando através da história de vida dela, tentando se encaixar no contexto de sua vida, para tentar entendê-la. Se não conseguir, pelo menos respeite, não julgue.
As pessoas repetem sem parar nas redes sociais, “mais amor por favor”. Concordo, falta amor. Mas o que falta mesmo é empatia. É sair do nosso lugar e ir até o lugar do outro. Se o seu amigo não tem a mesma opinião que a sua, respeite suas escolhas, ainda que pareçam insanas. Se não gostou, tudo bem, não há problema nisso, se ele anda postando coisas irritantes em sua linha do tempo, use o recurso “deixar de seguir”, mas não queira bani-lo de sua vida, não promova motins, não tente impedir as pessoas de expor suas opiniões, não o critique por não pensar como você, ou se isso for impossível, porque ele parece estar delirando proponha uma conversa amigável e civilizada, mas precisamos parar de agir pautados em impulsividade onde tentamos excluir das nossas vidas quem não nos agrada imediatamente. Afinal assim, estaremos indo na contramão do que o mundo nos pede, a inclusão. O aceitar e respeitar o diferente, porque no fim das contas, somos todos iguais. Errando ou acertando, estamos todos somente tentando ser felizes.
E se você não concordar com nada do que escrevi, está tudo bem também, nem sempre acertamos e principalmente nunca conseguiremos agradar a todos. Está tudo certo, são só minhas ideias e sugestões lançadas no mundo, nada mais.