O outro lado
Quando começamos a idealizar este novo layout do site, o que acrescentaríamos, tiraríamos, pensei que seria interessante pedir a alguns pacientes e ex pacientes que explicassem com suas próprias palavras o que eles pensam sobre Terapia, como eles percebem o processo e o meu trabalho para que outras pessoas pudessem entender um pouco mais sobre o que é de fato a Terapia e o que esperar por quem viveu a experiência. Nos últimos dias, quando reli todo o conteúdo para finalmente “subirmos o site” a fala de um paciente me chamou atenção. Na verdade um trecho, onde ele dizia que em nossa primeira sessão, eu disse algo que ele nunca mais se esqueceu: que o que determinava o certo e o errado eram as nossas perspectivas, como encaramos os fatos. Costumo dizer esta frase na primeira sessão, não exatamente com essas palavras, porque geralmente os pacientes chegam envoltos uma noção extremamente maniqueísta, onde só há dois caminhos a seguir, o do bem ou o do mal. E, das duas, uma: ou estão nesta encruzilhada, porque consideram que fizeram algo ruim ou alguém os colocou nesta encruzilhada por conta de algum ato muito cruel. Não tenho a menor pretensão de discutirmos aqui se todos os erros são perdoáveis. Não cabe a mim e nem quero. O que gostaria de propor é a possibilidade de deixarmos o nosso lado da história em segundo plano pelo menos por um momento e nos permitíssemos olhar para o outro lado.
Quando estamos sofrendo por algo que alguém nos fez, nos deixamos levar por uma voz interna, indignada, que clama por justiça, reconhece essa voz? Nada mais natural e humano. Obedecemos essa voz que supostamente sabe o que é o melhor para nós e para todos os outros aparentemente, e sentimos raiva. Nos inflamos, querendo justiça, querendo que o outro sofra, que seja punido, que pague o preço por tamanha decepção. Essa voz, nada mais é que o nosso medo falando. Nossas carências, nossa escassez, nossas inseguranças. Nos ofendemos profundamente com a pisada na bola do outro porque talvez tenhamos mesmo é medo, medo de sermos abandonados, medo de não darmos conta desta dor, medo de algo faltar, material ou não entre tantos outros medos que são tão pessoais e intransferíveis. Por isso, quando estiver neste lugar, acolha a sua dor, valide sua dor, sinta. Você não precisa minimizar o que foi feito pelo outro, mas procure perguntar a si mesmo o que mais está por trás da sua dor, da sua raiva, do seu clamor por justiça.
Assim que compreendemos o que realmente nos assusta, respeitando o que sentimos e nos acolhendo com carinho fica menos doloroso olhar para o outro. A palavra respeito vem do latim “respicere” que quer dizer “olhar de novo”. Quando puder, olhe novamente, ou seja, se permita pensar o que pode ter levado a pessoa a tal ação. O que você sabe sobre a ela, sobre a historia dela, sobre seus gatilhos, seus medos. Se ela faz ou fez parte da sua vida, talvez você tenha algumas destas respostas. Em geral tudo tem muito a menos a ver conosco do que pensamos. Talvez seja só defesa, é muito provável que essa pessoa aja assim com todos, você muito possivelmente é só mais uma pessoa de seu círculo passando pela mesma situação. Quando internalizamos isso de fato, quando compreendemos que o que o outro faz geralmente tem muito menos a ver do que pensamos (repeti a frase propositalmente 😉 ), sem arrogância ou falsa tolerância, nos livramos desse pesar.
Quando acolhemos nossa dor, entendemos o que está por trás da nossa raiva, revisitamos a situação e olhamos para o outro mais livres de julgamentos é possível se sentir melhor, perdoar e trazer de volta essa pessoa para o nosso convívio ou simplesmente seguir em frente dependendo da situação, até porque caso não tenha ficado claro ainda, você não é obrigado a nada. Se mesmo percebendo o que pode ter causado tal comportamento você não quiser mais a pessoa em sua vida, está tudo certo. Mas se nos permitirmos passar por todas as etapas deste ciclo, teremos a chance de sermos mais justos. Eu sei, essa “justiça” não se parece muito com o que sua voz interna pede. Mas confie em mim, sentir-se em paz é bem mais legal que se sentir vingado. Eu pelo menos acho.