3° Texto: Culpa
Culpa é um sentimento complexo de pesar quando nós sentimos que quebramos um acordo ou regra importante ou uma autoimagem que temos. Podemos considerar que esse sentimento surgiu estimulado pelas religiões, através da crença de um Deus punidor e severo que te observaria e cobraria a cada passo dado em falso. Este conceito foi repassado de geração em geração e está presente em maior ou menor grau dentro de cada um de nós, mesmo que a forma como algumas religiões entendam Deus tenha mudado, mesmo que alguns de nós nem sequer acreditem em Deus, a culpa se tornou inerente ao homem. Sentimos muita culpa, por muitas coisas, muitas vezes.
A primeira análise que devemos fazer quando estamos sentindo culpa é avaliar a regra ou acordo que quebramos. Deixe o sentimento de lado e avalie, essa é realmente regra justa? Ela foi imposta por quem? Ela é boa para você ou te prejudica? Como já falamos no último texto, caso você não tenha lido, clique aqui, ela pode ser mais uma regra definida em nosso sistema de crenças que foi imposta há muitos e muitos anos e não faz mais sentido, ou não é justa com você. Portanto o primeiro passo é analisar a regra “quebrada”.
Após a análise, supondo que a regra se aplique, precisamos tentar não nos torturar, que é o que geralmente fazemos. Repassamos milhões de vezes a cena na cabeça, nos culpando exaustivamente. Tente racionalizar um pouquinho. Tente se colocar no seu lugar, no momento em que cometeu o erro, com as informações que você tinha, do jeito em que a situação foi se configurando, de acordo com o que você estava sentindo. Seja empático consigo mesmo. Dá para entender o porquê de você ter cometido tal ação? Em seguida procure entender qual era a sua real intenção ao fazer tal coisa, o que você estava sentindo, o que faltou, o que você precisa entender, aceitar, o que precisa mudar. Não é o que você fez, é porque fez. Se entendermos o que estava por trás da ação, poderemos promover mudanças.
Outro dia ouvi uma história de uma pessoa que insistiu muito para que sua mãe fizesse uma viagem, porque acreditava que isso seria bom a ela. A mãe acabou aceitando e faleceu num acidente de trânsito, no caminho para o lugar. E essa pessoa mesmo diante de tanta dor, dizia: “eu sofri muito mas em nenhum momento senti culpa, porque sei que não tenho esse poder de provocar a morte de alguém, de provocar um acidente, não fui eu. Eu só insisti porque sabia que faria muito bem a ela”. E é exatamente isso. Entender que nem sempre a culpa é nossa, que em muitas situações, independente do que fizéssemos o resultado final seria parecido, porque não dependia somente de nós.
Precisamos nos perdoar por pior que tenha sido a falha. Se perdoar para agir melhor consigo mesmo, com os outros, Não temos como voltar atrás e consertar o erro, mas temos como entender as razões que te levaram até lá e nos esforçar para que ele não mais ocorra. E principalmente, pegar mais leve quando a “falha” não for tão grave assim, pare de se torturar a cada micro-erro que comete. Somos todos errantes e se não errássemos provavelmente não aprenderíamos nada. O jogo é esse, é assim que funciona.