Amizades: alinhando expectativas e realidade - Maria Fernanda Medina Guido

Amizades: alinhando expectativas e realidade

Tanto quanto aparecem as questões sobre relacionamentos amorosos no consultório aparecem as questões relacionadas às amizades. É muito recorrente nos pacientes a sensação de que um amigo está pisando na bola, principalmente por conta do tempo dispendido por cada um na relação.

Sempre achamos que fazemos demais e o outro faz de menos. Se isso nunca te incomodou em relação a algum amigo, aguarde. Em algum momento da relação vai incomodar. E quando acontece passamos a avaliar a amizade não pelas vezes em que a pessoa esteve por perto quando foi preciso, mas pelas vezes que você achava que ela deveria ter estado e ela não esteve.

Já faz um tempo que aprendi que o que é óbvio para mim pode não ser para o outro (já escrevi um texto somente sobre isso, se você não leu, clique AQUI) e em relação a amizade entender que o outro pode não saber o que está se passando dentro da sua cabeça (embora ele deveria, porque é óbvio que você está precisando dele, você pode estar pensando), faz muita diferença. Não se ofenda, mas seu amigo não tem uma bola de cristal em casa e não tem como saber que você está tendo uma semana difícil e precisa dele se vocês não se virem ou se falarem.

Talvez alguns estejam resmungando: “Mas eu perdi meu emprego! Que amigo é esse que sabe a dificuldade que eu estou passando e não se importa?!” Talvez um bom amigo que por você ter dito nas últimas 5 conversas que estava bem, acreditou. Ou talvez um amigo que ao longo dos anos parou de oferecer ajuda porque você nunca aceita, ou ainda um amigo que também está passando por alguma dificuldade e por isso se afastou, não porque não se importa contigo.

Não estou querendo dizer que não existem relações onde a reciprocidade não se faz presente. Claro que existem. Existem sim relações onde a hora que um precisa de ajuda o outro vai embora, mas muitas vezes queremos o outro mais presente em nossas vidas e não falamos porque o último telefonema já partiu da gente e então o próximo terá que partir dele. Reconhece esta história?

Está com saudade? Ligue. Precisa de colo? Peça. Sente-se abandonado num domingo à tarde e quer sair? Avise. Pare de complicar sua vida. Se acaso pedir ajuda e a mesma for negada aí você pode avaliar se essa amizade anda bem, lembrando claro que seu amigo não é obrigado a fazer tudo o que você quer na hora em que você quer. Precisamos de dados concretos para podermos julgar se alguém deve perder alguma posição importante em nossas vidas, não de achismos.

As prioridades mudam, as pessoas mudam, as relações mudam e não necessariamente para pior, só mudam. Agora, se você não aceitou os últimos 35 convites para sair não se ofenda quando o seu amigo parar de te chamar. Se no próximo sábado você tiver a fim, pode pegar o telefone e ligar e pode ser que você tenha uma noite muito agradável e tudo entre nos eixos novamente, ou pode aguardar o próximo contato emburrado no sofá da sala, a escolha é sua, só depende de você.

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